Sou doido pra trabalhar com docs e produções de video clipes, entrevistas, coisas de TV alternativa, além de rádio também.
Se eu fosse fazer um clipe, seria assim:
Pararoots
Há 5 semanas
Lucio Maia, agora que você visitará pela terceira vez (acho) este estado, fico pensando em quantas vezes te chamaram de Lúcio Mauro por aí. Saiba, se não sabe, que ele é natural desta terra sem lei em que vivemos. Digo, eu vivo, você não. Você é de Recife, lugar de profusão cultural intensa. É a meca dos que querem fundir a raiz intimista da cultura regional com o pop vendável pras massas que pensam que pensam. Saiba também que Recife condenou todos os outros pólos de produção cultural popular a seguirem a mesma receita, sob pena de não serem lá tão interessantes mais. Particularmente até concordo. Que graça tenho eu e minha guitarra de rock, num esquema tão ultrapassado que ninguém nem mais quer ver? Se eu não faço um samba esquema noise pra branquelada da classe média alta ver?
Os guris do RS pararam nos anos 60 de um jeito que me irrita, seja pro rock, seja pro hippie style. Ainda bem que há o Superguidis e as gaúchas bonitas pra livrar a cara desse povo. SP e RJ estão condenados pela sua natureza cosmopolita, de um jeito que nada se filtra. Penso que são pelinhos de nariz formando grandes bolas de meleca. Brasília é aquela languidez solitária, que até tem lá coisas interessantes - no meu gosto, Beto Só, com quem, juro, ainda tocarei. E tem também aquela banda que todo mundo gosta, os Móveis Coloniais de Acaju. Banda de gente feliz. Às vezes queria ser tão festivo assim. Mentira. No centro-oeste rola uma onda de rock muito forte, só porrada. Não lembro de cabeça agora ter esta tendência por lá de mix do regional com rock. No norte rola de tudo, até dedo no olho. Macapá e Belém, por exemplo, comungam de um número sem fim de estilos. A capital amapaense, tem dois grandes expoentes: Stereovitrola e Mini Box Lunar, a primeira numa onda retrô super pra frentex, a outra numa onda retrô...retrô. Interessantíssimas. Em todo o Brasil tem, na verdade.
Mas a cidade segue quente. Há um tempo, tínhamos poucas bandas, mas bastante significativas. Lembrando rápido, na época em que surgiu o Madame Saatan, por exemplo, ainda tínhamos Stigma, o popularíssimo Caustic, Norman Bates, Álibe de Orfeu, o esforçado Santo Graal, o - quando emo ainda se chamava HC melódico - Step2, Cravo Carbono, A Euterpia, Stereoscope, Eletrola, Suzana Flag, Delinquetes; um pouco antes disso, tinha o L do Caboco (que era um nome incrível pra uma banda muito boa). Até me alonguei. Muita coisa mudou de 2003 pra cá. Acho que o número de bandas quintuplicou, mas, confesso, a quantidade de artistas realmente bons não acompanhou este crescimento. Deve haver algum fundamento estatístico em relação a isso.
Lucio Maia, meu filho, você já deve conhecer Pio Lobato. É tipo um você, mas que não usa amplificadores. Ele não flerta, faz orgias com o que já foi música de massa de ontem e com o que o é de hoje, levantando a bandeira das batidas homemade em fruityloops e efeitos digitais com guitarra ligada direto na mesa. Pra mim é um abuso, que gasto alguns milheiros pra me sentir bem como instrumentista, concordar que ele acerta em cheio na timbragem peculiar que só Pio Lobato pode tirar. Inclusive "Recado para Lucio Maia" é uma canção dele. Eu só me apropriei do título para encabeçar este post. A propósito, baixa lá no blog do meu amigo Azul, o Música Paraense, o maior compêndio virtual da produção musical feita no Pará.
Chega a ser engraçado isso de ter banda. Quando começamos - e aqui tem uma foto de quando a gente nem era banda ainda, só amigos - não tínhamos idéia do nível de articulação que se precisa ter em um determinado momento da história. Acho que ninguém tem. Cinco anos depois, eu realmente penso que me sinto mais à vontade procurando timbragens interessantes no meu amplificador do que somando 2 mais 2 pra saber se consigo um resultado 5 e botar a gente em tal festival. Ou em tal horário. Ou abrir praquela banda. Ou chegar naquele produtor, jornalista, dono de selo, enfim. Não, nem vou me arriscar a dizer o que desgosto em muitas escolhas e posturas que rolam pelo país, muito menos aqui nessa ilha, que é esta capital. De repente a fumaça preta de LOST vem me pegar aqui em casa...
Como disse lá em cima, timbrar e misturar efeitos é algo natural do artista que eu gostaria de ser. Mas sentar e pensar que canção se encaixa de um jeito mais interessante no disco, mesmo que ela não seja melhor do que alguma que fique de fora, é estranho. Parece não ser lá muito lógico, mas é como compor a pintura de um quadro e preferir a cor A, mesmo que ela não seja mais bonita do que a B, mas só por ela realizar uma função que vá interagir com o resto da pintura, de um jeito que realce as demais cores. É uma droga de busca pelo equilíbrio na obra como um todo. Tipo nesses cavalos bonitos e musculosos de corrida, quando lhe cortam o saco. Eles ganham mais massa muscular. Estamos cortando o saco do nosso disco, parece-me.
Ainda está em votação se gravaremos ou não Contra a Parede, canção, juntamente com Pra você, solidão, do primeiro EP da gente. Aquele, do cachorro preto na capa branca. Se rolar, prometo arranjos mais enxutos e com bem menos efeitos desnecessários e porra de plug ins. Seria uma boa chance de me redimir da minha época de efeitos digitais.
Pois sim, não rolou o Pio, triste fiquei, mas deu pra ver melhor um bom show do Juca Culatra e sua eterna camisa da Seleção Brasileira. Muito engraçado esse bicho. Um peixe meu comentou que ele era o produtor executivo do Sevilla, ou alguma banda de regue que não lembro o nome, e que teria saído dos bastidores pra fazer o próprio som. Não sei se confere, mas lendas à parte, sobre o som posso dizer que, de cara, afasta qualquer preconceito que alguém possa ter contra uma banda de regue. Juca Culatra & Power Trio abarcam o ritmo jamaicano salpicando um rock tipo pop modernoso, mas distante de ser ruim, além de apresentar uns samba-rock de muita qualidade. Taí uma coisa que essa molecada de umas e outras bandas deveriam ver pra ter pelo menos noção do que é um samba-rock bem feito, e não aquelas formulas chatas, com uma voz falsa e arrastada de "mamãe-quero-ser-Rodrigo-Amarante". Muito bom esse tal de Juca e seus três instrumentistas certeiros, fazendo juz à literal leitura que se faz de "power trio". JC é super simpático. Colecionou um sem número de latinhas de cerveja que lhe davam no palco.
No meio desta fuga, fui ver o Plug Ventura. Fico meio apreensivo quando ouço o Plug ao vivo. Sensação de que a banda não acompanha a idéia inicial do compositor. Se a gente parar pra ouvir as músicas, não dá pra não dizer que são canções bem feitas, com um vocal legal, melodioso, um vocalista que canta bem, letras legais, coerentes, uma estrutura bem feita, que não se arrisca, é verdade, mas que também não erra. Mas vou dizer o que mais me chamou atenção na apresentação de ontem: uma droga de uma boina brega, horrorosa, e de muito mal gosto e - pasmem - virada pra trás. Só há duas possibilidades de você usar uma boina e ficar bem em você: 1) você ser o Che Guevara; ou 2) você ser tão estiloso que consiga combinar com um ítem extremamente específico e dificílimo de se usar, principalmente em Belém. E não, o baixista não tinha esta capacidade de se vestir bem, nem pra banda de rock, nem pra guerrilheiro, nem pra baixista a fim do Jaco Pastorius, sinceramente, ele enviou uma mensagem que não consegui decodificar.
Pode parecer besteira isso, mas roupas dizem o que somos; música também. Quando eu vejo uma banda com músicas legais, como o Plug, com canções que dizem uma coisa e vejo um baixista que se veste de um jeito que não tem nada a ver com o estilo da banda ou da música, ou um guitarra que usa um instrumento a lá Steve Vai ou Petrucci, cara, eu fico perdido. A música boa vai numa direção e de repente me entra uma linha de guitarra que me brocha profundamente, me fazendo lembrar dos primeiros sucessos do Barão Vermelho, pra lá de 20 anos atrás, e que não tem a ver com as coisas todas. Fico, como disse no começo, apreensivo. Mas a banda é legal. Gosto bastante do Lucas (vocal) e o acho super talentoso, além de ser gente boa e ser irmão de uma excelente fotógrafa, Tita Padilha, provavelmente uma das garotas mais doces que tem por aí. Torço muito pela banda.