Amigo Lucio Maia,
Tudo bem, não sou seu amigo, muito menos você é meu. Mas antes que nos desentendamos, ou que você pense que sou um estilão Galvão Bueno, gostaria de dizer-lhe que muito admiro seu trabalho como guitarrista.
Já é de muito tempo que cato shows do Nação no Youtube e que estico os olhos pra ver que latinhas você coleciona no seu tão colorido pedalboard. Confesso que o Fome de Tudo me arrebatou de primeira e foi um amor mais veloz do que o que senti pelo Ok Computer. Não, não digo que é melhor do que o Ok, mas também não está abaixo dele.
Caro Lucio Maia, quando soube que você viria a Belém, fiquei preocupado. Sou do tipo cheio de si - de mim, no caso - e não costumo ficar nervoso perto das pessoas que eu gostaria de ser como músico. Não me leve a mal. Ser tão sincero pode parecer psicótico - e gay, neste caso - eu sei, mas dizer o que eu disse é mais próximo do que eu gostaria de significar do que se falasse que apenas admiro o seu jeito de tocar. Não que eu esteja querendo te imitar - nem que eu quisesse.
Lucio Maia, agora que você visitará pela terceira vez (acho) este estado, fico pensando em quantas vezes te chamaram de Lúcio Mauro por aí. Saiba, se não sabe, que ele é natural desta terra sem lei em que vivemos. Digo, eu vivo, você não. Você é de Recife, lugar de profusão cultural intensa. É a meca dos que querem fundir a raiz intimista da cultura regional com o pop vendável pras massas que pensam que pensam. Saiba também que Recife condenou todos os outros pólos de produção cultural popular a seguirem a mesma receita, sob pena de não serem lá tão interessantes mais. Particularmente até concordo. Que graça tenho eu e minha guitarra de rock, num esquema tão ultrapassado que ninguém nem mais quer ver? Se eu não faço um samba esquema noise pra branquelada da classe média alta ver?
Recife é tão fenomenal que ainda hoje, década e meia depois do surgimento do Manguebeat, se fala, como vou falar agora, em descoberta de uma nova Recife, tal qual procuraram uma outra Seattle um pouco antes, nos USA. Pois vou te dizer, Lucio, Belém também tem algo de que se orgulhar. Só me dá um tempinho pra pensar e no outro parágrafo te elenco.
Os guris do RS pararam nos anos 60 de um jeito que me irrita, seja pro rock, seja pro hippie style. Ainda bem que há o Superguidis e as gaúchas bonitas pra livrar a cara desse povo. SP e RJ estão condenados pela sua natureza cosmopolita, de um jeito que nada se filtra. Penso que são pelinhos de nariz formando grandes bolas de meleca. Brasília é aquela languidez solitária, que até tem lá coisas interessantes - no meu gosto, Beto Só, com quem, juro, ainda tocarei. E tem também aquela banda que todo mundo gosta, os Móveis Coloniais de Acaju. Banda de gente feliz. Às vezes queria ser tão festivo assim. Mentira. No centro-oeste rola uma onda de rock muito forte, só porrada. Não lembro de cabeça agora ter esta tendência por lá de mix do regional com rock. No norte rola de tudo, até dedo no olho. Macapá e Belém, por exemplo, comungam de um número sem fim de estilos. A capital amapaense, tem dois grandes expoentes: Stereovitrola e Mini Box Lunar, a primeira numa onda retrô super pra frentex, a outra numa onda retrô...retrô. Interessantíssimas. Em todo o Brasil tem, na verdade.
E esta cidade cá, que já foi Paris dos trópicos, hoje mais parece a ante-sala do inferno de tão quente e tão feia, também ferve, mesmo que seja num banho maria lento e gradual. Às vezes falta gás. Às vezes é só muita gente pra comer na mesma panela. Mas a cidade está aí. Lembro bem das reuniões que freqüentei da ProRock, lá pros idos de 2003, em que as pessoas diziam "zenti, quando a porta se abrir pra um, vai abrir pra toooduuus". Aham. Não tem segredo nessas coisas. O que traduz a receita do sucesso, por mais clichê que possa ser, é o trabalho. No caso, de construir um lastro e um acúmulo de público, de nome, de produção, enfim.
Mas a cidade segue quente. Há um tempo, tínhamos poucas bandas, mas bastante significativas. Lembrando rápido, na época em que surgiu o Madame Saatan, por exemplo, ainda tínhamos Stigma, o popularíssimo Caustic, Norman Bates, Álibe de Orfeu, o esforçado Santo Graal, o - quando emo ainda se chamava HC melódico - Step2, Cravo Carbono, A Euterpia, Stereoscope, Eletrola, Suzana Flag, Delinquetes; um pouco antes disso, tinha o L do Caboco (que era um nome incrível pra uma banda muito boa). Até me alonguei. Muita coisa mudou de 2003 pra cá. Acho que o número de bandas quintuplicou, mas, confesso, a quantidade de artistas realmente bons não acompanhou este crescimento. Deve haver algum fundamento estatístico em relação a isso.
Se fosse comentar contigo, Lucio, sobre as bandas daqui, falaria das que eu prefiro dizer que estão no front de batalha. Sobre as interessantes, não tenho como não citar Johny Rockstar, Ataque Fantasma, Madame Saatan, Turbo, Sincera, Juca Culatra & Power Trio, Clube de Vanguarda Celestial, Jungle Band, Destruidores de Tóquio, Telaviv, Inverso Falante... devo ter esquecido alguma, mas alguém te mostra depois. Não que isso vá te interessar, eu duvido, mas são coisas bem legais daqui.
Lucio Maia, meu filho, você já deve conhecer Pio Lobato. É tipo um você, mas que não usa amplificadores. Ele não flerta, faz orgias com o que já foi música de massa de ontem e com o que o é de hoje, levantando a bandeira das batidas homemade em fruityloops e efeitos digitais com guitarra ligada direto na mesa. Pra mim é um abuso, que gasto alguns milheiros pra me sentir bem como instrumentista, concordar que ele acerta em cheio na timbragem peculiar que só Pio Lobato pode tirar. Inclusive "Recado para Lucio Maia" é uma canção dele. Eu só me apropriei do título para encabeçar este post. A propósito, baixa lá no blog do meu amigo Azul, o Música Paraense, o maior compêndio virtual da produção musical feita no Pará.
Só pra terminar, Lucio, vou tocar no mesmo festival que você. Na outra ponta da tabela, mas no mesmo festival. Então, chega cedo no sábado! Comprei um Polyphase da EHx só por conta da faixa "Fome de tudo" e queria umas dicas de looping em paralelo com dois pedalboards, que estou pensando em usar. Pois é. Sábado, oito da noite, antes do Jornal Nacional.
Dá um ligão, qualquer coisa. Grande abraço.
Diego.
Imagino se o Lucio Maia ler esse texto heheheeh
ResponderExcluirele vai pensar que tu e um doido varrido hehehehe no minino !!!!! Até eu fiquei com medo de ti agora !!!!
Abraço !!!
Andrey Moreira
É verdade... E com o horário de verão nem é antes do JN, já é depois!
ResponderExcluirVou mandar uma mensagem pro Lucio dar um pulo aqui.
:)
HEhEhehEHE
ResponderExcluirEsse é meu texto favorito do teu blog! :P
Abraço vizinho...
Milton