segunda-feira, abril 26, 2010

Pauzão bonito que só.



Mulheres tiram foto exibindo seus decotes, aquela quantidade generosa de carnes sobrando, enfileiradas, empinando a bunda, fazendo bicão, com umas caras que transbordam lascívia, mandando a mensagem maliciosa certeira pra dentro das nossas calças, mas na certeza de que estão só se fazendo de gostosas e não, não vão dar pra você, muito menos pra mim.

Moleques, que se dizem homens, tiram foto com a galera: um bando de macho assumidamente tosco, exibindo seus carros tunados, seus muques bombados, uma cerveja sempre na mão pra lembrar que bacana mesmo é estar bêbado pra aturar o som que eles ouvem, sem deixar de lado a máxima de que cu de porre não tem dono.

Viados enrustidos tiram foto mostrando a barriga em forma de tanquinho, mas só porque ainda não aprenderam a fazer num formato de florzinha, de coração, ou coisa do gênero; enquanto que os frescos assumidos se aglomeram querendo aparecer, em grupos com outros viados, de quem sempre falam mal, de garotas, por quem alimentam grande inveja manifesta, e de sapatas, que abertamente odeiam, mas todos, provavelmente por falta de opção, são muito amigos ou coisa que o valha, o que me lembra que, se bater punheta na webcam é pecado, imagina dar o cu.

O que isenta minha mente e meu coração totalmente de me sentir mal em tirar foto do meu equipamento, pelo qual tenho tanto carinho, depois de ter passado uma tarde inteira limpando o pedalboard e arrumando pedal por pedal de um jeito que encaixassem no espaço, além de organizar o cabeamento e organizar de acordo com a ordem dos efeitos. Porque se eu tivesse um pauzão bonito, também tirava foto dele e postava aqui. Como não, vai o pedalboard mesmo.

domingo, abril 11, 2010

Technobrega é coisa do Satanás.

Suberversão, lascívia, malícia. A mais completa falta de respeito. Ousado, imediatista, low range, livre do senso do ridículo, não que seja necessariamente ridículo - muito provavelmente mais ridículo é a gente gastar milhares em equipo de primeira e não ganhar um tostão com isso, ou trabalhar em prol de um coletivo sem sequer acreditar nele de verdade - e que definitivamente está muito além da lógica comercial mundial. Quando ouço technobrega nos bares, nas ruas, nas casas, nos carros, porque Belém respira Technobrega, sinto muito todas essas coisas.

Provavelmente a indústria cultural do Technobrega tenha descoberto e aplicado a melhor maneira de lidar com a livre circulação da música e como ganhar dinheiro com isso, devido ao seu baixo custo de produção e da mão de obra improvisada. Genial. Um som marginal, de uma cultura marginal, feito por marginais para marginais, tudo em lato sensu.

Abaixo, você ouve a incrível versão technobrega para Idioteque, do Radiohead, banda igualmente subversiva e marginal.

Idioteque (Dj Cremoso Remix) by Dj Cremoso

E no link, ao lado direito você encontra versões para Say it aint so, do Weezer, e até Everlong, de Foo Fighters.

quarta-feira, abril 07, 2010

Navalha, o novo projeto de Andrey Moreira.

Há duas semanas rolou o Fabrikaos, evento realizado pelo Jayme Katarro, vocalista da Delinquentes e agitador cultural nesta capital. O evento reflete o que se tem de mais atual na cidade, além de fundir num só festival bandas e públicos completamente diferentes.

Além do que já foi dito, o Fabrikaos tem como escopo abrir portas para bandas que estão começando, a exemplo do que aconteceu com o Telaviv em edições passadas e hoje é referência no Norte no seu estilo. Trash Metal? Death Metal? Brutal Metal? Sei lá, eu não entendo de metal. Mas a banda é bacana. Vou fazer uma banda de metal e dizer que é BadBoy Metal. Do mal e tal.

Nesta edição, tivemos a apresentação da Navalha, o novo projeto do guitarrista Andrey Moreira, que estava afastado dos palcos há pelo menos 7 anos, quando fez parte da Caustic, uma das bandas de maior relevância da cena no fim dos anos 90 e início da década de 2000. Também compunha a Caustic o talentoso vocalista  Marcelo Kahwage, da Dharma Burns, The Baudelaires, La Orchestra Imperial Invisível e mais algumas 15 bandas.

Arte de John Bogéa

Navalha

Além do Andrey, a banda tem no baixo Fly, ex-Crashdown, banda que também movimentou bastante o cenário nos anos 2000, e muito pouca gente sabe, mas foi responsável pelo up do Café Taverna, casa em que rolaram muitos shows de quase todas as bandas que tocavam nesse período por aqui. Hoje o Taverna amarga o triste esquecimento de quem faz o rock em Belém, graças ao olho grande de seu dono, cobrando das bandas para tocarem lá. Parece uma casa aí que também está indo pro mesmo caminho, ainda mais agora com o Caverna Clube abrindo as portas pro rock autoral e absorvendo todo o público. Fa-re-lo.

Eric Alvarenga, líder da Aeroplano, ocupa a vaga de vocalista do Navalha. Para compor a outra guitarra, seu irmão, Felipe Alvarenga, que toca bem demais e nunca tinha conseguido se firmar numa banda com mais pujança ou relevância.



Sobre o som

Afinação baixa nas cordas, bateria com pedal duplo, efeitos na guitarras e no baixo e influências de Katatonia, Tool, Opeth, Deftones, A Perfect Circle, Porcupine Tree, Dream Theater. Pelo que pude absorver da primeira apresentação do Navalha, a banda divide funções claramente. 

Temos à frente da banda os riffs de guitarra guiando o caminho da maioria das canções que, por enquanto, e é natural que seja assim, ainda estão bastante ligadas umas às outras, o que é bom, cria uma identidade forte pra banda, mas talvez dê aquela impressão chata de que as composições seriam bastante parecidas umas com as outras. O que não quer dizer que sejam ruins, pelo contrário.

Gostei dos arranjos de baixo, bastante bem montado com a bateria. O mais legal é ver como, com músicos bons, se extrai o melhor que se pode dos instrumentos. E talvez em alguns momentos o que precise é de mais respiração e menos transpiração. Tenho problema com pratos e guitarras, sempre preciso de uma parte da música sem eles.

Como era marca registrada do Caustic, Andrey ainda faz bom uso de seus atributos de guitarrista que gosta de efeitos como delay, modulações, usar ebow e coisas diferentes. Optante pelo uso de equipamentos digitais, se diz mais confortável na sua POD XT. Do outro lado do palco, na outra guitarra, Felipe mostra que mesmo estando há pouco tempo na banda, tem algo interessante a acrescentar , até porque vem de uma linha bem diferente de música, de regue a hip hop, new metal e muitas coisas que, espero, possam se refletir no Navalha. O bom mesmo é misturar.

Ao fim da noite, soube que Eric teve que passar pela inafastável série de comentários do público que viu a estréia o Navalha. Muitas foram as vezes em que se repetiu "gostei mais dessa tua banda agora do que daquela Aeroplano em que tocas". O que me chamou atenção foi a perfórmance mais, digamos, masculina do vocalista à frente do Navalha. As letras, todas em português, possuem uma boa qualidade. Melodias perfeitamente cantáveis, absorvíveis, além de refrões certeiros. Achei as letras até mais legais do que algumas do Aeroplano, realmente. Além disso, se mostrou um frontman surpreendentemente carismático. Agora, saber se os camisas pretas vão aceitar sua baby-face é outra história.


Desde depois do show a banda está procurando um baterista, já que o que estava na vaga partiu rumo ao desconhecido. Assim que encontrarem um, entram em estúdio para gravar um EP.



Superguidis - Superguidis

Quando vejo uma banda que já tem alguns discos e alguns anos nas costas lançar um CD homônimo, fico logo desconfiado que este será, ou pelo menos foi investido pra isso, o trabalho que mudará a vida da banda. Como já perdi as contas de quantos releases saíram em blogs, sites, jornais e revistas sobre este disco do quarteto gaúcho mais adorado do Brasil, e a turnê deles se agiganta a ponto de passear por quase todo o norte, infelizmente não pelo Pará, devo estar certo.


Grandeosamente, como sempre, os Guidis falam ao coração com uma sinceridade que não dá pra ignorar. É quase como compartilhar seus problemas, anseios, amores, saudades e pequenas alegrias com grandes amigos de longa data, daqueles que sabem tudo sobre você.

Abrindo o disco com a bela "Roger Waters", quase um prólogo, os gaúchos de Guaíba dão a falsa impressão de que faltarão guitarras. Que nada! Em seguida, o hit que abriu 2010 mostrando como se deve iniciar uma nova década: "Não fosse o bom humor" jogou o Superguidis no trendtopics no Twitter fácil por alguns dias, transbordando uma melodia, colada nas guitarras altas, bem altas, não se deixando duvidar que o bom rock existe. E mesmo sem entender o que se canta a gente quer balbuciar qualquer coisa pra fazer parte dessa coisa tão legal que é essa faixa. "Traduzo" pra vocês o refrão: não fosse o bom humor, meu estômago todo ia fritar. Segue o clipe:


Em rodas de conversa sobre este disco aqui em Belém é normal se ouvir que qualquer uma poderia ter sido escolhida a música de trabalho pra este CD e cada um acaba pegando pra si uma como preferida. Essa segunda adolescência pelo que passamos, talvez sem o direito de passar, ainda não sei bem, nos faz vibrar todos na mesma freqüência. É meio esquisito saber que caras lá do outro lado do país sentem o mesmo que a gente e vê-los usar termos como "quero mais é que se exploda" de um modo tão poético é fascinante.


Uma das faixas que me chamam mais atenção, nessa altura em que se beira os 30, é "Aos amigos", numa delicadeza sem medidas quando trata sobre coisas ruins pelas quais se passa, mas faz uso da simplicidade típica das letras dos Guidis pra dizer-se "melhor assim, que eu não estou só". Poesia pura, nas microfonias, noises, slides, delays, fuzzes, linhas de baixo certeiras, guitarras com single coil que fogem da caretice do que a gente vê normalmente por aí.

Ouvir Superguidis é de apertar o coração. Um dos discos mais sinceros, simples e conscientes que eu já ouvi.

Gravado e produzido por Philippe Seabra. // Senhor F Discos.

Conjunto de Rock - Stereoscope

Sempre cri mais na inteligência do que na beleza, assim como sempre dei mais crédito à estratégia de abordagem do que ao talento de uma banda, muito provavelmente por não ter nem beleza, nem talento. O Stereoscope é o tipo de banda que cospe nas minhas crenças e deve ser por isso que é a minha banda paraense preferida.

O Rádio 2000, primeiro lançamento do Stereo, deve ter sido o disco com mais hits instantâneos já lançados aqui no meio do mato, que o mundo conhece como a maravilhosa Amazônia. Algum plano para dominar o mundo? Que nada, eles nem eram uma banda. E nas conversas que temos nos tempo presente, sinto que não mudou muita coisa de lá pra cá. Sei que eles se importam demais com a arte, mas se envergonhados em ter que fazer as coisas ridículas que se faz numa banda de rock.



E é essa sensação que é esfregada na cara de quem ouve o “Conjunto de Rock”, disco sucessor do fantástico “O Grande Passeio do Stereoscope”. Uma tiração de sarro, que toma tons sérios em certo ponto do disco desde a primeira faixa, “Clark Kent”, em que Ricardo Maradei, um dos letristas – e uma das pessoas, particularmente falando - mais geniais que eu costumo ouvir, trata da vida dupla que um rockstar de fim de semana tem. Um baita desabafo, quando diz “E mesmo assim você faz, embora todos digam que você não é capaz”. Me senti representado.
Além de desafiar a tradição poética do Stereoscope, desta vez priorizando uma fala mais direta, bem menos lírica, o “Conjunto de Rock” também consolida Daniel, que confesso nunca ter conseguido ver como parte da banda(coisa de fã), mas desta vez ficou evidente que ele o é, como baterista, criando arranjos muito bons, inclusive, e dando uma pegada bem mais firme e vívida ao som do Stereo. Marcelo, como sempre, é responsável pela faixa mais pop, vendável e mais fácil de se gostar, praticamente grudando de primeira na cabeça, “Canção que não toca no rádio”. Excelente.

Jack Nilson canta na faixa que dá nome ao disco, emprestando sua interpretação particularíssima ao coração deste trabalho. Para quem vive isso de ter banda, o Conjunto de Rock fala muito à alma, mesmo com esse tom que caminha entre o carinhoso e o jocoso, típico das pessoas que fazem o Stereoscope. Chega a ser cativante.
O disco inteiro é bastante bem arranjado, sob produção de Philippe Seabra, aquele da famosa Plebe Rude, e lançado pela Senhor F Discos, do visionário e gente boa Fernando Rosa. É um trabalho pra se ouvir não como um próximo degrau em relação ao último, mas como algo independente na discografia da banda. Soa como um cansaço no espírito, cansaço da mesmice de todos os dias, do que todas as bandas têm que se submeter, subjulgar seu próprio senso do ridículo, a correria pra aparecer, o ego, os procedimentos mais adequados, ou, nas palavras de Jack, numa métrica exemplar: “você vai ter que deixar de lado algumas diversões e esquecer as tais canções. As garotas você não precisa dispensar pro caso de realmente precisar, pra que possam acreditar que você chegou lá”. Não é muito louco isso? Fazer um disco inteiro peitando toda essa pompa que todo mundo tenta sustentar? É o Stereoscope.
Ah, e tem um texto do Jack no encarte do disco que vale a pena ler. É fantástico.

Greve das Navalhas - Violins

Muito fã de Violins, desde o início desta década que findou, sou todo elogios ao Greve das Navalhas. Destaco também o além-música: disponibilizar as 11 faixas para download livre, liberando uma por dia, um primor de sapiência, pontuando a discussão de prazo vencido sobre colocar ou não o disco para download. Compartilhar é a palavra e quem não optar por este caminho, vai ficar com o seu trabalho todinho pra si só, sozinho.



O disco tem uma sensação de fim de mundo entranhada nas belas letras do filósofo Beto Cupertino, mas de um modo bastante esperançoso. De cara, “Comercial de Papelaria”, faixa 2, acerta em cheio o coração de qualquer jovem adulto quando dispara no refrão: “você se parecia criança vendo um comercial de papelaria anunciando o fim das férias, sem alegria plena” ou na última canção do disco, a cruel “Um só fato”, quando na certeza de uma solidão perene é normal sentir como a banda diz: “de fato o mundo perdeu o som. Ninguém mais ouve você e eu. Será que a gente morreu?”. Poderia passar a madrugada inteira citando trechos, mas recomendo uma canção que ainda está disponível no site do Violins: Tsunami, que resume o disco nos seus pontos mais fortes.


Gravado no RockLab, tradicional estúdio goiano, sob produção de Gustavo Vazquez, famoso por produzir os premiados “Artista Igual a Pedreiro”, do Macaco Bong, e o disco de debut do badalado Black Drawing Chalks, além de muitas outras façanhas, Greve das Navalhas, esteticamente, gira em torno das boas melodias e das letras fortes. Os arranjos são bastante enxutos, muito atuais, com boas sacadas e resolvendo questões dentro do clima da música. Nada fica over e tudo está no seu devido lugar, à altura de uma banda que lança seu quinto disco com muita qualidade.