quarta-feira, abril 07, 2010

Conjunto de Rock - Stereoscope

Sempre cri mais na inteligência do que na beleza, assim como sempre dei mais crédito à estratégia de abordagem do que ao talento de uma banda, muito provavelmente por não ter nem beleza, nem talento. O Stereoscope é o tipo de banda que cospe nas minhas crenças e deve ser por isso que é a minha banda paraense preferida.

O Rádio 2000, primeiro lançamento do Stereo, deve ter sido o disco com mais hits instantâneos já lançados aqui no meio do mato, que o mundo conhece como a maravilhosa Amazônia. Algum plano para dominar o mundo? Que nada, eles nem eram uma banda. E nas conversas que temos nos tempo presente, sinto que não mudou muita coisa de lá pra cá. Sei que eles se importam demais com a arte, mas se envergonhados em ter que fazer as coisas ridículas que se faz numa banda de rock.



E é essa sensação que é esfregada na cara de quem ouve o “Conjunto de Rock”, disco sucessor do fantástico “O Grande Passeio do Stereoscope”. Uma tiração de sarro, que toma tons sérios em certo ponto do disco desde a primeira faixa, “Clark Kent”, em que Ricardo Maradei, um dos letristas – e uma das pessoas, particularmente falando - mais geniais que eu costumo ouvir, trata da vida dupla que um rockstar de fim de semana tem. Um baita desabafo, quando diz “E mesmo assim você faz, embora todos digam que você não é capaz”. Me senti representado.
Além de desafiar a tradição poética do Stereoscope, desta vez priorizando uma fala mais direta, bem menos lírica, o “Conjunto de Rock” também consolida Daniel, que confesso nunca ter conseguido ver como parte da banda(coisa de fã), mas desta vez ficou evidente que ele o é, como baterista, criando arranjos muito bons, inclusive, e dando uma pegada bem mais firme e vívida ao som do Stereo. Marcelo, como sempre, é responsável pela faixa mais pop, vendável e mais fácil de se gostar, praticamente grudando de primeira na cabeça, “Canção que não toca no rádio”. Excelente.

Jack Nilson canta na faixa que dá nome ao disco, emprestando sua interpretação particularíssima ao coração deste trabalho. Para quem vive isso de ter banda, o Conjunto de Rock fala muito à alma, mesmo com esse tom que caminha entre o carinhoso e o jocoso, típico das pessoas que fazem o Stereoscope. Chega a ser cativante.
O disco inteiro é bastante bem arranjado, sob produção de Philippe Seabra, aquele da famosa Plebe Rude, e lançado pela Senhor F Discos, do visionário e gente boa Fernando Rosa. É um trabalho pra se ouvir não como um próximo degrau em relação ao último, mas como algo independente na discografia da banda. Soa como um cansaço no espírito, cansaço da mesmice de todos os dias, do que todas as bandas têm que se submeter, subjulgar seu próprio senso do ridículo, a correria pra aparecer, o ego, os procedimentos mais adequados, ou, nas palavras de Jack, numa métrica exemplar: “você vai ter que deixar de lado algumas diversões e esquecer as tais canções. As garotas você não precisa dispensar pro caso de realmente precisar, pra que possam acreditar que você chegou lá”. Não é muito louco isso? Fazer um disco inteiro peitando toda essa pompa que todo mundo tenta sustentar? É o Stereoscope.
Ah, e tem um texto do Jack no encarte do disco que vale a pena ler. É fantástico.

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