sábado, outubro 10, 2009

Cíiirio de Nazaréeee, luz que nos guiii-iii-iiiaaa... Aaa-ve-ma-ri-a...

Ontem, sexta última antes do Círio, aproveitei que a romaria dos carros, sei lá como chama, rodo-romaria, romaria rodoviária, são 11 romarias, e eu nem sei porque chamar de "romaria", como se fosse a mulher do Romário. De qualquer modo, meu amigo Éder e eu aproveitamos que a tal da romaria passou pela frente do trabalho, nos disfarçamos de romeiros e nos metemos no meio da galera. Ou seja, fugimos do trabalho travestidos de pessoas de fé. Ele realmente tinha que ir nessa história, para sacar seu dinheiro no BanPará, banco deste estado e pagar logo a dívida de seu carro com outro banco, o Itaú, sob pena de ter seu veículo submetido à busca e apreensão. Eu? Só fui pra ver o que pode acontecer se você sair no meio do expediente pra ir bem ali e voltar. Ainda mais ao lado do Éder, que é campeão em fazer besteira. Fiquei pensando "se ele faz doidice em situações normais, que dirá no meio de uma multidão?". E bota multidão.


Quase acho graça de tanto que me parece insensato e sem sentido a cidade inteira parar por conta de um movimento religioso específico. Sem que em 9 entre 10 blogs paraenses, exatamente agora, há um post maldizendo o Círio. Nem é isso que eu quero fazer. Só levantando a questão: por que não transformar a sexta em feriado logo? Toda a sexta-feira que antecede o Círio sempre é uma cagada: desde o centro da cidade até Ananideua fica um verdadeiro inferno. E por que as pessoas são liberada do trabalho depois do meio dia? Depois que a Santa já passou! O que é que eu vou fazer depois do meio dia: 1) Se eu for uma pessoa católica que liga pra passagem da imagem da Santa, bom, ela já passou. Depois do meio dia não serve pra nada pra mim. 2) Se eu não estiver muito ligado nessa de Círio, cara, a passagem da imagem já acabou com o meu dia, fudeu meu trânsito, cheguei atrasado nos lugares, não completei a missão.


Nessa história de ir andando dali da Tuna até o Castanheira, fomos nos desviando das pessoas que acompanhavam o cortejo. Algumas pagavam uma espécie de promessa light, que era dar água aos elementos que passavam. Engraçado que é um jeito de " vou fazer merda o ano todo e quando chegar o Círio, dou água  que fica tudo 'de boa' com o povo lá de cima". Daí que via gente dando água até pra quem não queria, tipo "não parceiro, obrigado, eu não ... " e "toma, toma, leva logo". Pois é.

Vimos também umas senhoras, todas já derretidas pelo avançar da idade, quarando sob o sol quente de 11 da manhã, em plena Almirante Barroso, o maior forno a céu aberto da linha do equador. Também passamos por uma mulher com cara de ploc e dois bebês, um no colo e outro no carrinho. Claro que estavam chorando. Ainda não estão no papo de ver a Santa passar. Rolou até uma mini romaria dos ladrões que usam bicicletas como meio de transporte. A galera da bike tava toda lá no entroncamento. Não sei se rezando, mas se sim, não tanto quanto eu para que não fosse assaltado. Égua da gente feia e fedorenta. Sim, sou feio, mas pelo menos cheiro bem que só.


Fico pensando mesmo é nesse povo que vem lá de longe, de outras cidades muito distantes, caminhando, num sol doido, dia e noite, dormindo na beira da estrada, como forma de pagar promessa ou só de homenagear Nossa Senhora. Cara, se eu fosse alguém bem poderoso lá de cima, dava um jeito de as pessoas saberem que, se elas querem chegar perto assim de um santo tão poderoso, a última coisa legal que elas poderiam fazer é se martirizar. Caramba, faz uma ONG, vai dar comida pra cachorro com fome, doar roupa, tratar bem o vizinho, não falar no celular enquanto dirige, não furar engarrafamento pelo acostamento, sei lá, tanta coisa. Tipo distribuir amor aos colegas de trabalho carentes, ou sei lá. Que eu me lembre, dos meus tempos de estudo dos Escritos Sagrados, no máximo papai do céu pedia pra sacrificar umas cabras, bodes, essas coisas. O máximo da auto mutilação que consta na Bíblia é a circuncisão. A propósito, vejam Ano I ( Year One), com o Jack Black. Uma bela releitura do início do Velho Testamento. Mas acho que se você não conhecer tanto a Bíblia, talvez nem seja tão engraçado.

No fim das contas, o que eu acho mesmo é que o Círio resume em duas semanas a cultura paraense por inteira. Desde a quantidade gigantesca de gente feia e burra numa multidão infinita, passando pelo modo como as pessoas são mal educadas e grosseiras mesmo dentro da procissão, acotovelando-se umas às outras; no modo como os de classe média alta curtem o evento do alto dos seus prédios no centro da cidade, e o povo é aquele rio de merda lá em baixo; como a cidade, complacente e compreensivamente admite que uma imagem e uma religião possam parar o fluxo da metrópole da Amazônia e atrapalhar a vida de milhares de pessoas que nem têm a ver com a religiosidade dos outros. Quer dizer, galerão reclamou muito quando as obras da 14 de Março com a Mundurucus e Pariquis interrompeu o trânsito ali, por conta da macrodrenagem, do tratamento do canal, visando evitar o transbordamento das águas de esgoto no próximo inverno, justamente uma das únicas obras decentes do prefeito fantasma mór, Duciomar Costa. Mas a imagem pode cagalizar tudo, que ta lindo.


Fato é que subvertemos a idéia de religiosidade por popularidade. Hoje as pessoas querem tocar, ver, tirar foto, beijar, chupar, lamber e sugar tudo o que podem da Santa Popstar. Até se sentem próximas, chamam de Nazica, Nazinha, 'minha mãezinha'. Cadê o respeito nessa porra?! Não é Nossa Senhora de Nazaré, assim com tudo maiúsculo? Se o próprio nome de Deus é uma seqüência de consoantes - porque nenhum Homem é capaz de pronunciá-lo, de tão superior que é em relação a nossa raça, o famoso YHWH, que mané mãezinha, já?

Fora que muita gente traz tudo pro lado do futebol, né. Na sexta, tava vendo a hora de alguém gritar na rua, "PEGA, É SANTA, PORRA!". Quase puxo o coro, mas fiquei com vergonha. O mais legal é que promesseiro/romeiro pode tudo, né. Qualquer confusão, "não pode me prender, seu guarda, to pagando promessa, é minha fé" e tal. Tipo passar a mão nas menininhas de escola que estavam zanzando com aquelas calças bem justas nas partes mais carnudas e que sobem a camisa e dão-lhe um nó, quase um top, naquela malha que de tão fina fica até transparente, deixando florescer toda aquele morena típica dessa raça mal definida, mas até que atraente. Ê escola pública. Saudade do que nunca vivi.

Tenho que ir à casa de um primo ver filmes de aliens, super heróis, jogar videogame e falar besteira, por isso, vou resumir: eu gosto muito do Círio, não só da comida, mas da maneira como ele entrelaça a cidade inteira numa conjuntura político-social-econômica e em diversos outros aspectos que não daria tempo pra falar aqui. Eu gosto do Círio. Do que não gosto é das pessoas.



Já acompanhei muitas vezes o Círio. Acho que só uma vez a Trasladação. Acho que todo paraense deveria acompanhar pelo menos uma duas romarias, porque é muito emocionante. É mágico, quase.

Beijo e feliz Círio pra você e pros seus familiares. Que NªSª derrame todas as coisas legais sobre você. Além de maniçoba, tucupi, essas coisas. As outras legais, digo.

P.S.: Brindo com a bela canção do Stereoscope, num clipe bizarro feito sei lá por quem. Mas juro que não fui eu.


10 comentários:

  1. A propósito, se alguém souber de quem são essas fotos super legais, coloquem os créditos. Não, eu não me dei o trabalho de procurar. Só joguei no google "Cirio + porrada". Como não achei cena de porrada, então foram essas.

    Também procurei foto de colegiais salientes, mas não achei. Só um vídeo bem legal, mas acho que não é lá bacana pro meu blog pôr isso por aqui ainda, né. Até porque ele não tem restrição de idade, sei lá, podia sair do ar. Essas coisas.

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  2. Cara o Círio e uma festa muito grande e como grandeza às vezes é sinônimo de exageros e meio é que impossível não ter-los. Mas eu gosto Círio e uma coisa única nossa... a cidade fica horrível ? Fica sim! Hoje mesmo quase matei um ciclista em uma bicicleta sem freio (puta merda como alguém tem coragem de andar de bike aqui em BEL sem freio?) e acho que ele ainda estava porre, frei o carro um palmo do desgraçado. Mas tenho ótimas lembranças das festa de círio na minha família então viva o círio!!!
    Abraço!!!

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  3. Depois de ontem, passei a fazer parte da sua estatistica: "9 entre 10 blogs paraenses, exatamente agora, há um post maldizendo o Círio". Mas... acredito q n estou maldizendo o círio. N ainda!!

    OBS: cheiroso, eh?!

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  4. Égua eu num vou nem dar opinião, pois como muitos ja sabem, sou ateu e odeio essas paradas de religião.

    Milton

    PS: Apesar de que acho q com poucas palavras acabei foi dando a minha né? hehehe

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  5. cara, tu és muito engraçado!
    adorei esse post! demais! ri em váááários momentos... rsrsrsrs

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  6. bacana o post, parabens didi!!!

    não tenho religião...quer dizer só tenho uma...o paysandu!!!

    mas égua, essa parada de vc ser prejudicado com um transito louco e parado por causa de uma romaria da qual vc não tem nada ver com ela...é complicado!!!

    abs didi!!!

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  7. Que Nossa Senhora te ilumine meu filho e que consigas tudo que tu desejas. Aliás, isso não é uma boa idéia... Que tu consigas somente as boas coisas que você deseja.

    :)

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  8. Nossa q profunda sua visão geral sobre o círio! uhauhauhauhauahuahauha Gostei da postagem! Um ótimo Círio pra vc e sua família! bjão

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  9. did didi didie, que post foda esse. e concordo com tudo. principalmente com o "Eu gosto do Círio. Do que não gosto é das pessoas."

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  10. Ahhh ia perguntar na terça porque chegou tão atordoado da saída do trabalho no meio do expediente, mas agora já respondeu rs* Agora também vai fazer uma experiência dessa com o Eder e em dia de romaria, só podia ser hilário rs*
    Quanto ao Círio, é tudo sem explicação, já fiz parte do grupo de pessoas que não assistem e nem acompanham e hoje faço parte do grupo de pessoas que em algum lugar espera a santa passar.. e reza.. e chora, agradece, pede e se emociona. Se nada disso fizer sentido e alguém poderoso lá de cima concordar com vc, não tenho ONG e ainda falo ao celular enquanto dirijo, mas doo roupa, trato bem o vizinho, dou comida a cachorro com fome, um bom amigo me convenceu a não furar mais engarrafamento pelo acostamento, o que me faz chegar atrasada no trabalho e levo lanche para os amigos de trabalho, carentes ou não rs*
    Continuo achando que a maior injustiça do Círio não é o trânsito e sim o almoço. Hoje almocei arroz com farofa só porque não como carne de porco, nem maniçoba e nem pato, com ou sem tucupi rs* Mas não perco por nada almoço de Círio :)
    E por falar em Círio... Feliz Círio 2009!!

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