segunda-feira, novembro 02, 2009

Malachai - O despertar dos mágicos

Há diversas maneiras de se ouvir um disco. A minha preferida é sempre no talo, especialmente se o disco for bom, com as músicas cheias de detalhezinhos escondidos na mix, efeitos legais, sacadas que fogem do padrão. Dane-se o padrão, diriam meus amigos preferidos sobre meus álbuns prediletos.

O disco O despertar dos mágicos é quase isso. Abre com uma intro do tipo "respeitável público...", num clima circense, gritinhos, palmas, apitos, rufadas de caixa, entre outros sons de picadeiro, dando o tom do resto da obra: quase dá pra se sentir numa aldeia cigana ao redor de uma fogueira, com mulheres bonitas de graça e bebida boa, mesmo pra um cara que não bebe, como eu. De cara eu já penso que é um disco sobre as coisas boas da vida.



Quando alguém vem falar comigo sobre o Malachai, eu sempre tenho a mesma reação, dizendo de imediato "excelentes letras, muito boas melodias", e isso também se aplica a este registro do qual falo agora. O disco mescla temas bastante intimistas com canções mais "pra fora", cantáveis logo de cara.

As faixas Retratos, Sons da cidade, Não respire, Estrada nova e Se nada me desafiasse renderiam muitas linhas neste texto que cá escrevo. Prefiro, entretanto, não me alongar. Recomendo, então, que as escutem. São a estrutura e o resumo do disco em si e mostram a grande qualidade do compositor Renato Menezes.

Tendo nitidamente por lastro o rock rural, além de The Doors, Mutantes, Ronnie Von, tropicalismo, Sá, Rodrix & Guarabyra, filmes antigos, moda antiga e tudo que é velho, a banda abusa dos teclados de Caio Manza pra fazer o climão anos 70, e, de um jeito muito perspicaz e atrevido, aposta num violão de nylon muito do seu lo-fi, adicionando-o quase como um elemento percursivo na gravação. Soaria mal em qualquer banda, mas no Malachai, encaixa-se perfeitamente.

Enquanto escrevo estas palavras, ouço o disco. Não pela primeira vez, porque um disco assim a gente tem que absorver de pouquinho. Não que ele seja complexo - nem é, mas tem coisas que nem quem compôs a música sabe que está passando. E letras tão boas assim extrapolam o domínio das idéias de quem a escreveu, como na lânguida faixa 8, Beijo Fugaz, que é de se apertar os olhos e cantar junto bem alto. Já fiz isso enquanto lavava a louça outro dia.


Eu podia catar coisas que me desagradam no disco, pra este texto ficar mais engraçado, como as redundâncias em alguns arranjos - como na parte em que se fala sobre cair num poço e soa um grito ao fundo de alguém caindo, ou frases de guitarra em que os dedos procuram as notas, parecendo que foram arranjos feitos na hora ou mal resolvidos, ou até a falta de carinho e de empenho na mix. Eu poderia, mas não. Acho este disco bastante sincero. Dá pra perceber que foi feito de coração e qualquer coisa que se procure pra dizer que poderia ter sido melhor é pura bobagem. Se eu tivesse feito um disco assim, estaria orgulhoso. Espero que o Malachai esteja.

Dá pra ouvir algumas do disco aqui.

Além da música.

Surpreende, tanto quanto o áudio, o visu do disco, com um encarte bem bonito, trabalhado, diferente, que tenta transmitir a psicodelia que a banda procura ter nas suas músicas. Mulheres nuas nadando num fundo lilás entre fotos da banda e letras das canções do CD. Confesso que não gostei da frente do disco, com um desenho dos integrantes, mas dane-se esse desenho. O disco é bom de se ver e de se ouvir.

Além da banda.

Nunca vi uma articulação tão bem feita para um lançamento de um CD. Malachai está de parabéns por contar com esta integração com uma assessoria de imprensa muito boa. Vou até copiar o modelo pra mim.

Lançamento do disco

SERVIÇO:

Show de lançamento do CD da banda Malachai
7 de novembro, no Açaí Biruta
Malachai + Clepsidra + Juca Culatra e Power Trio
Ingressos a CINCO reais, compre dois e GANHE o CD.

Pontos de venda:
- Livraria Newstime (Shopping Pátio/Estação)
- Ná Figueredo (Gentil/Estação)

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