segunda-feira, novembro 16, 2009

Aspectos gerais sobre o Festival Se Rasgum IV - 2009

Sexta feira 13, com toda sua natureza cabalística, lançou seu véu de sucesso sobre o primeiro dia do festival, que imagino ser o mais tenso para os organizadores. Acho que a bênção de Jason Voorhees foi tanta que transbordou à data e alcançou o resto do festival todo.


Quando na véspera eu disse a Marcel Arêde, um dos responsáveis pelo evento, "começa amanhã, né?", ele me respondeu "pra mim começou já tem mais de duas semanas", fiquei tentando imaginar o peso das obrigações que devem recair sobre os ombros destas pessoas brancas que parecem passar uns vários dias sem dormir e sem tomar banho, usando a mesma camisa suada por três dias inteiros. Acho heróico isso. Não a parte de não tomar banho, mas se dedicar de um jeito tão intenso que chega a ser bonito, mesmo para um cara chato e antipático, como eu.

Este ano o Festival Se Rasgum ganhou forma de um evento realmente grande, com pelo menos 2 headlines de peso nacional incontestável. Não que as suas edições anteriores não tivessem tido toda a estrutura que credencie um festival como grande, mas este ano a coisa se deu de maneira diferente. Só de ver o nome do evento ultrapassar a linha vermelha que separa as pessoas normais das que vivem no universo paralelo do mundo independente, com a logo passeando por toda a cidade em propagandas em ônibus e vários carros adesivados rodando por aí, além de milhares de notas sassaricando no twitter sobre o evento, já dá uma idéia do que o festival será no futuro: não mais um nicho específico de vertente de produção cultural, mas a certeza que Belém terá sobre este festival que acontece aqui, e não num universo paralelo dissociado desta realidade. O Se Rasgum se tornará uma data no calendário da Belém real.

O Não Rock


Falando em segmentação, nitidamente a produção artística do evento largou as mãos do Rock. Ou melhor, preferiu abrir uma roda, com várias mãos dadas, além do referido estilo. Acho que fica mais justo dizer assim. Mas, falando em justiça, devo dizer que nessa ciranda, o Rock, principalmente o local, ficou distante das mãos da produtora, quase entrando num esquema de quotas. Não estou reclamando, só reportando. Só vou reclamar em outro parágrafo.

Techoshow, Bonde do Rolê, Marku Ribas, Pinduca e Música Magneta, entre outras, deram o tom de mistureba popular cultural ao evento. Particularmente, Pio, Dj Dolores e Vieira (que formavam o M. Magneta) e Pinduca foram interessantes de se assistir. Fora isso, não consegui me maravilhar. Desculpa minha falta de sensibilidade. Mas agradeço ao festival por nos proporcionar esse encontro entre artistas, no geral, tão diferentes que dificilmente aconteceria em situação outra qualquer.

Além da música

Aliás, este foi o ponto que, agora sim, me deixou fascinado: a profusão de diferentes tipos de pessoas e de músicas, de roupas, de comida, de discos, de tatuagem, de piercing; com coleta seletiva; com wi fi livre, com workshops, com palestras; o Rui apresentando muito bem as bandas, mesmo falando mais merda por segundo que qualquer ser humano já falou; com grafite e com uma porra de um ralf e uns skatistas que não se cansavam de ficar pra lá e pra cá a noite toda, naquele esporte sem objetivo nenhum. Mas era bem legal de estar presente no meio daquele turbilhão de coisas acontecendo. Fazer parte da história sendo produzida é uma sensação muito boa - provavelmente a melhor de todas as coisas que eu já fiz, mesmo parado, só observando e tentando não esquecer de nada pra poder escrever cá neste blog.

Headlines





De cara confesso que eu sou muito fã do Nação Zumbi, mas sou obrigado a dizer que esperava mais do show. Me surpreendi com o Du Peixe como frontman e com o jeitão extrovertido no palco do Lúcio Maia, que eu pensava ser mais contido, como todos os guitarristas que eu gosto. É uma baita banda, mas que me cansou a certa altura do show. Fiquei triste por o som não estar como deveria até perto do fim.


Falando em som bom, o Pato Fu afastou a idéia de apresentação monótona e meteu ficha na simpatia e na perfeição do áudio e do timing com a programação de midi (que há quem resuma o conceito em playback), sem falar na iluminação super bem feita. Ai um mapa de iluminação na minha vida... Mas há quem diga que todas as piadinhas  e falas com o público são ensaiadinhas e repetidas idênticas de shows em outros lugares. Enfim, foi legal de se ver. Admirável pela disciplina e pela técnica.




Não vi o Velhas Virgens, mas todo mundo diz que foi um showzão. Sei que no Matanza as pessoas ficaram loucas. Eu nem sabia que essa banda era grande. Um ruivo com o cabelo todo cheio de pontas duplas e quebrado, um filhinho de papai metido a cantar hinos que lembram muito aquele personagem do Tom Cavalcante, o Pit Bicha. Sabe? Um lance meio de "sou muito macho, até debaixo de outro macho". Bom, eu acho a banda uma merda, mas muita gente gostou, gritou, esperneou...




Os melhores shows





Houve dois momentos de gazelagem da minha parte neste festival: 1) Eletrola tocando "Antes do fim", no Palco Laboratório. Eu até parei de filmar o show, fiquei na minha, miúdo, quieto, me arrepiei, de verdade. Juro que quase cai a lágrima; e 2) Sincera tocando Admitir. Que música intensa! Fudida!

Vou começar pelas exceções: 1) AMP, de Pernambuco, que deve signifcar Alto Mesmo, Porra!, ou coisa do tipo. É pra quem gosta de guitarra, stonner, captação EMG, tudo grave, pegada forte, porrada na cabeça e de ROCK no seu sentido mais puro. Bem legal. Só tinha ouvido as músicas no Myspace meses antes de eles serem anunciados no Se Rasgum, mas é como Fernando Rosa diz, sobre termos que ver as bandas ao vivo pra saber o que elas realmente são. E 2) GORK. Convesando com o próprio Jesus Sanchez, baixista do Gork e do Los Pirata, eu disse "showzão ontem" e ele "é só putaria, né, cara" e sorriu. É muito fácil fazer uma boa apresentação com guitarra com timbre lindo e perfeitinho, letras edificantes e vocais melodiosos, mas usar uma Gibson Black Beauty e tirar um som horrível, numa métrica toda cortada, numa música falada, vestido de um jeito ridículo, com letras do tipo "Pode parecer mentira, mas eu sou um vampiro. Minha mãe é uma cigana, meu pai é o Biro-Biro!" é só pros melhores. Ambujamra é o cara! 


Agora vamos para a regra: sem querer ser pedante ou bairrista, duvido que alguém discorde do fato de que as bandas paraenses fizeram os melhores shows do festival todo. Vou na ordem: a interessantíssima apresentação do The Baudelaires, desfilando uma coleção de temas de grande qualidade abriu o festival; Ataque Fantasma foi embananado pelo som do palco grande, mas mesmo assim foi bastante competente; Aeroplano fez uma apresentação condizente com quem está afiado o suficiente para entrar em estúdio; Juca Culatra é o showman de Belém; Johny Rockstar fez um dos três melhores shows do festival inteiro; o outro foi do Sincera; e o outro foi do Delinquentes, que chamou o terceiro dia de 'noite do caos'. Jayme Katarro é foda!

Não que eu queira ser chato e cospir no prato em que comi, mas, sério, não é patente, pra não dizer gritante, que as bandas locais atraem público, agitam muito os shows, e merecem um horário melhorzinho? Não digo isso nem querendo puxar o tapete das bandas de som mais... regional, mas batendo de frente com o que é rock mesmo, tão genéricas que mostraram, no máximo, guitarras bonitas ou integrantes bonitas. Tão significativas que foram que eu não saberia nem dizer quem é quem se me perguntassem. Fica uma sugestão, como público que sou, para o Festival, que observe que as bandas locais merecem horários melhores, para o bem do próprio evento.


A gente sempre ouve, quando termina uma edição do Se Rasgum, que será o último, mas torce muito para que seja só o cansaço falando alto e da boca pra fora dos corações dos organizadores. Parabéns a todos, público, bandas e produção. Obrigado por me deixarem participar um pouquinho da feitura da história da sociedade em que vivo e espero que tenham gostado deste resumão gigantesco e, ainda assim, omisso em muita coisa.


7 comentários:

  1. Realmente as bandas locais fizeram bonito, algumas tocaram pra poucas pessoas e fizeram um otimo show como o Proprio Aeroplano, mas sempre tem isso nesses grandes festivais. Mas fiquei bastante feliz de ver o Sincera entrando pra quebrar tudo !!! O Eletrola que promoveu uma volta no tempo pra todos que estavam la, muito bom ! O Delinquentes noooossssa foi insano, levou o publico a loucura, seu Jayme um puta front man e o resto da banda no mesmo nivel(fiquei emocinonado) entre outras bandas daqui que fizeram bonito, eu fico feliz de ter bandas fazendo bonito !!!

    E isso abraço !!!

    Andrey

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  2. Escutei o show do Delinquentes online, nao deu pra ter mta ideia axo q so estando la, tenho certeza q mais cedo ou mais tarde eu ia entrar na roda! Apesar da pessima transmissao o show do Velhas, foi foda! eu ficaria ate 5 da matina pra ver os caras e com certeza muito bebado (senao nao tem graça). Eles tocaram o novo show e tds os hits antigos, sem contar nas merdas q o paulao fala sempre, q alias eu queria perguntar: Eu e mais um grupinho de gente eramos os maiores fas das Velhas Virgens em belem, fora isso nao conheço tanta gente que pire, qual foi a impressao que ficou do show? Quem conhece o Paulao sabe as zuera q ele eh, ele fala mesmo, comanda a galera e te faz arranjar desculpa pra beber mais. ele chamou o publico de FDP varias vezes e denegriu igrejas, pastores e deus, pra mim isso eh rock, mas numa sociedade conservadora como em Belem nao sei como isso pega!

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  3. Concordo com tudo Didi. Também não vi nada demais no Matanza. Johny não foi, johny é foda. Delinquentes pra mim fez o melhor show da noite e talvez o melhor dos 3 dias. E eletrola? Eu chorei... e foi isso.

    Bandas paraenses foram as melhores. Se Rasgum precisa ver isso com urgência.

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  4. O que eu acho é que não tem mais nível cara, tá todo mundo nivelado, a verdade é essa. Ontem a gente sabe uma coisa, amanhã já é a mesma, então fica tudo muito imprevisível.

    Abraços.

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  5. Só faltou citar a galera por trás da coxia. mas é isso aí foi muito foda!

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  6. Verdade, Caquiados. O problema é que eu não conheço as pessoas direito. Como disse no primeiro parágrafo, acho heróico o trabalho deles.

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  7. O festival é o maior e como tal tem um perfil que engloba muita coisa. Fazer um evento que agrade a todos é certeza de não agradar de todo.
    Espero que superemos esse carma de ter um único grande festival e que apareçam cada vez mais eventos menores em que se veja a produção local não como "banda de abertura" (nosso eterno complexo de vira-lata) e nem aremedando clipe de gringo.

    Vou esperar sentado que de pé cansa...

    abs

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