terça-feira, janeiro 26, 2010

Ações imaginárias de um gordo preguiçoso.

Agora há pouco devo ter jogado fora mais alguns 30 minutos de minha vida me dedicando a ouvir parte da fala de algumas pessoas no Seminário de Desenvolvimento da Música Paraense. Como disse, foram 30 minutos, não o seminário inteiro, evidentemente.

Ouvi um trecho que me causou profundo horror, algo falando sobre a culpa da Rede Globo e do capitalismo, além da perseguição e opressão que os meios comerciais impõem contra negros, índios e descendentes destes, além da exclusão sócio-cultural e alijamento a que estão destinados os povos e suas produções que não se encontram no eixo centro-sul do Brasil.

Charfurdando na minha preguiça, do alto da minha boa educação de classe média - cravada no meio, nem alta, nem baixa - aproveitando a chuva invernal da metrópole da Amazônia, que invade a minha casinha, vivendo minha vidinha, meu carguinho público, eu me vejo na obrigação de discordar das ações a que este tipo de dicussão pode levar. Digo, tenho receio do tipo de conclusão que se pode tirar de uma fala tão genérica.

Imagino que o seminário seja para achar soluções para o escoamento e distribuição do "produto" artístico paraense. Questiono aqui, inocente que sou, o quanto de blá blá blá vai ser preciso pras pessoas agirem de verdade e largarem de lado os bilhões de caracteres, que eu nem consigo mais ler, juro que te juro, em atas e emails  que me vazam sob juras de segredo a respeito de valores astronômicos liberados por esta ou aquela entidade para este ou aquele grupo. Ou grupelho.

O que as pessoas querem? Dinheiro público? Articulação organizacional? Querem realmente trabalhar? Querem vingança? Ouvi quase meia hora de acusações aos donos dos meios de produção e lamúrias sobre o quanto nada dá certo aqui. E se continuarmos reclamando, só reclamando, nada dará.

Vê o exemplo dos guris do Megafônica. Formado em sua maioria por membros de bandas, que não têm lá grandes especialidades, mas estão se virando, aprendendo, desenvolvendo, dando a cara pra bater, fazendo eventos pequenos e grandes movimentos de articulação, construindo um nome, fomentando público. Que será do coletivo no fim de 2010? Uma puta referência dentro da cidade! - asseguro que lá fora já se engrandece o nome do grupo. Ouvi muitos elogios a eles. Igualmente se pode falar de outros, como o Durango, que tem uma política comercial segundo eles mesmos, mas que quer andar de mãos dadas com as bandas que julgam ser de qualidade do meio independente. Além do Radio Trash, que tem um outro âmbito de atuação; a própria Se Rasgum, numa outra direção; e outros tantos coletivos. Belém até parece aquele capítulo dos livros de português, tão cheia de coletivos que está.

Sinceramente, não acho que Belém seja um pólo de produção cultural atrasado. Estamos a nosso tempo. Vivemos em um país em desenvolvimento, numa região em desenvolvimento, numa cidade em desenvolvimento. Morei na periferia de Belém por 22 anos e não tem como não dizer que a cidade é nivelada por baixo em educação e oportunidades em qualquer seara profissional, seja na música, teatro, esporte, educação e todos os demais.

Se queremos realmente mudar isso, mpbistas, regionalistas, rockstars de fim de semana, vamos trabalhar. Juntos ou sozinhos, ninguém precisa ser melhor amigo ou inimigo declarado para ser mais ou menos ético. Todos temos um interesse em comum. Não existe uma competição, não existe disputa neste mercado de trabalho que é a música independente.

Dá um ligão, marca uma conversa, mini reunião. Seriedade e compromisso são essenciais, mas formalidade demais, pompa demais, isso realmente muda a história? Quando a gente enfeita demais o bolo, égua, perde o tesão de comer.

Desculpa se abusei da minha ignorância ou se pareci saber muito sobre o que estou falando. Falo aqui mais como amante da música, como público, como um jovem adulto que fica feliz demais quando vê uma banda legal tendo o merecido reconhecimento, do que como agente desta cena.

E eu realmente acredito no trabalho braçal. Ou pelo menos acho mais divertido.

Grande abraço,
Sigo engordando com uma bolacha que ainda não identifiquei o sabor e ouvindo Cat Power.

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