segunda-feira, março 01, 2010

Caipiras invadindo a Amazônia

No último sábado, 27 de fevereiro do corrente ano, a banda Turbo saiu da capital do Pará em direção à cidade de Peixe Boi, suportando uma viagem de pouco mais de 4 horas entre asfalto e estrada de piçarra. Tivemos a honra de acompanhar tal aventura, mais uma vez sob a bandeira do Independentes do Brasil, na condição de convidados da organização do evento - fomos Raul Bentes e eu, para transmitir pela Web Rádio e para escrevermos sobre.


O Invasão Caipira é um projeto capitaneado pelos Destruidores de Tóquio, de Capanema, sem dúvida uma das bandas mais interessantes do norte do Brasil. Eles abriram a noite e de cara mostraram que o nome caipira é só pra chamar atenção, porque a sofisticação do DDT é espantosa.



Desde a característica sombria e marcante de seus timbres, a referência direta às influências, a preocupação estética e visual, valendo-se até de um vídeo de background em sua apresentação - tudo é de saltar aos olhos. Composições tão maduras que não devem nada a trabalhos de reconhecimento nacional. Os caras já têm uma baita experiência nas costas com miniturnê pelo sudeste e tudo. Estão com disco novo (Ná Music, em digipack, muito bem feito) e prometeram vir a Belém em abril para mais shows.

Além do DDT e do Turbo, tocaram Octoplugs, naturais de Peixe Boi, e   Paralelo XI, de Primavera, além de uma banda cover de Nova Timboteua.

Antes de começar o evento, todos pensamos que não daria ninguém. A praça ao lado do Centro Comunitário em que se deu a festa estava cheia de camisas pretas de olhares suspeitos sobre nós, mas ninguém parecia se interessar no que ocorreria dali a pouco. 

Que nada! Nos 5 primeiros minutos a casa encheu rápido e das 22 até a hora em que não consegui mais entender o que diziam os ponteiros, porque a cerveja era 3 latas por 5 reais, o público não se deu o desfrute de relaxar, esfriar ou esvair-se do local. Bom demais.

Não tem como não destacar o show do Turbo. Apesar de ser grande amigo do [i]frontman[/i] Camillo Royale, ainda me surpreendo com a naturalidade de seu talento rockstar. Sem querer mimetizar a estética linquística, quase vazia e elogiosa de blogstars famosos de nossa cidade, Camillo é Metal - leia-se "mãozinha com chifrinhos" e dentes se apertando. E um ponto de exclamação aqui.

Problemas técnicos misteriosos entre os cabos de pedais ou no amp de guitarra acabaram por sabotar mais da metade do show do Turbo, o que irritaria profundamente qualquer guitarrista. Fosse eu, já teria dado uma bica no amp e teria voltado pra Belém de bike, mas não o Camillo. 

Nas duas últimas músicas o Amp não tornou a falhar e foi aí que se viu quem é quem na parada: como de costume, emendou a última canção num instrumental de riffs que praticamente te obrigam a bater cabeça. E os peixe boys, o público local, não se contiveram. Participativos desde o começo, eles enlouqueceram quando Camillo desceu do palco e tocou ao lado do público. Sobre ele, fizeram o montinho mais doido que já vi na vida. Juro que queria ser um bom fotógrafo para poder registrar a montanha de gente enlouquecida se rebolando de um lado a outro.

Provavelmente vou esquecer este dia, porque minha memória é um lixo. Mas se fosse guardar algo, seria a cara de terror de um dos peixe boys quando o guitarrista do Turbo partiu pra cima dele com sua Les Paul adesivada.

E o Pará não tem talento pra fazer Rock? E a gente precisa se amontoar em dívidas morais para poder fazer algo? Precisamos mesmo pisar nos outros e dizermo-nos representantes de uma classe para pleitear junto ao Estado alguma solução para nossa falta de qualidade que atravessa décadas?

Égua! O povo do Pará diz e mostra que não! E viva a Invasão Caipira, que em breve terá mais uma edição em outras cidades do interior.


Diego Atie Fadul
Independentes do Brasil
independentesdobrasil@hotmail.com

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