Não tem conversa mais clichê entre guitarristas do que a discussão sobre o que seria melhor, usar pedaleiras ou pedais. A pergunta para este Didi que vos fala foi feita pelo recém-psicólogo e há muito tempo guitarrista Eric Alvarenga, que usa pedais, ao conversar com Andrey Moreira, publicitário, funcionário da IBM e guitarrista há mais tempo que todos nesta terra, que abraça a causa das Pedaleiras.
Eric me perguntou: por que guitarristas que só usam distorção compram pedaleiras? O papo aqui vai ser chato. Então, se você não tem nada a ver com este assunto, passe para outro post.
Pedais são dispositivos acionados pelos pés que ficam entre o instrumento e o amplificador e modificam o sinal da sua guitarra, de acordo com o seu respectivo efeito.
Há os analógicos, que tratam o sinal continuamente, obtendo o efeito somente com componentes eletrônicos, como resistores, capacitores, diodos , transístores, circuitos integradosm como amplificadores operacionais, e as vezes até válvulas ou chaves seletoras.
Há também os pedais digitais, que processam o sinal, com amostragem do valor da tensão e por equações matemáticas. Quem executa essas equações é um circuito integrado especial, chamado DSP (processador digital de sinais).
Normalmente cada pedal tem sua particularidade. Seu sistema trabalha exclusivamente para aquele determinado efeito, como se fosse sua especialidade. Normalmente os guitarristas mais puristas dão muito mais valor a pedais analógicos, porque estes conservam um sinal muito mais vivo, quente, brilhoso, mais visceral do que os efeitos gerados por pedais digitais. Daí também a preferência por pedais em detrimento às pedaleiras em geral.
Entretanto, há diversos argumentos em prol de pedaleiras digitais e processadores de efeitos para guitarras. O principal é a comodidade de se ter tudo o que se precisaria em uma única 'lata' grande, em vez de ter diversas 'latinhas' ligadas por cabos. Outra: o preço. No meu board, por exemplo, tenho pelo menos 3 pedais que tem o valor em torno de mil reais cada. E olha que eu uso 9 pedais diferentes - por enquanto. A pedaleira top do mercado custa uns 1500 reais. Entre os pedais, tenho que pôr cabos de muita qualidade, para evitar perda de sinal, ruídos, etc. Cada plug de cabo entre os pedais, custa 18 reais. Plug! E aí? Não é mais vantagem comprar uma pedaleira top ou um pouco abaixo, que tenha todos os efeitos básicos que um guitarrista precisa ter? Depende.
Aí tenho que voltar à pergunda do Eric, que deu início a esta conversa cá. Hoje, os processadores de efeito evoluíram bastante. Simuladores de amplificadores como os POD, da Line6, são quase perfeitos. Tanto o é, que são utilizados por bandas gringas em gravações de seus discos, como se amplificadores fossem. EVIDENTE, pelo menos na minha humilde opinião, que um não substitui o outro, mas, na impossibilidade de se ter um certo amp à mão, por que não usar o tão bem elogiado simulador? Sou dos que acredita que absolutamente nada substitui o punch de um bom falante de 12" microfonado, o movimento do ar entre o mic e o falante e válvulas bem quentes, mas se fosse comigo, eu testaria, pelo menos, antes de desdenhar.
Sobre usar distorção em pedaleira. Digamos que uma POD X3 custe 2 mil reais. Nela você tem efeitos básicos, que não tem nada de mais, como chorus, delay, flanger, phase, vibe, rotary, etc., além de distorção e simulação de diversos amplificadores e microfonações, com intenção de se plugar diretamente em linha, sem precisar de um amp no palco, ou seja, diretamente na mesa. E funciona.
O que o Eric questiona é que, no lugar de se adquirir uma pedaleira, o guitarrista que só usa distorção poderia comprar um bom pedal de distorção valvulado, que custa bem menos, ou investir num head com canais de distorção. Aí é carregar o bicho pra cima e pra baixo.
A galera do metal e new metal adora as POD XT Live (foto), mas sou partidário da idéia de que é melhor esse povo comprar um head, porque é muito deselegante você ter muitas possibilidades em um equipamento e sequer tentar usá-las.
Um amigo do trabalho, Bruno Rabelo, ex-Cravo Carbono, hoje mesmo me perguntou sobre pedaleiras. No caso do Bruno, é bem mais plausível a opção pelo digital. Usualmente, ele experimenta diversas texturas de camadas de guitarra e aplica isto nas gravações caseiras que faz. Atualmente, boa parte das pedaleiras mais modernas lança mão de um dispositivo USB para gravação direta na interface ligada ao computador. Uma baita mão na roda pra quem não quer ter o trabalho, ou não tem o equipamento necessário, para microfonar um amp. Imagina, substituir uma mesa de som, pré amp, cabos e cabos, microfones caríssimos, a técnica para microfonar e um bom amplificador por um simples cabo USB. Lindo, né?
Se há uma verdade entre Pedais X Pedaleiras é que depende muito mais da finalidade do equipamento e do guitarrista que o está usando. Particularmente, tive duas pedaleiras, zoom 505II e ME-50 BOSS. Abusei das duas. Ambas me limitaram. Testei GT3, GT6, GT8, todas da BOSS, e vi que pedaleira não é a minha. Porque, por mais que você fuce tudo, um dia ela vai te limitar. E eu sou muito psicótico com isso de limites. Pedais sim são a minha. Numa conta rápida aqui, tive uns 14 pedais até hoje, desde que larguei as pedaleiras em 2007, sempre comprando, vendendo, substituindo um pelo outro.
Sobre áudio, eu acho pedais analógicos mais quentes, mais confortáveis, com timbres mais agradáveis, mais bonitos, peculiares, isso tudo fora o fetiche todo em torno da coisa.
Vixe, que ainda tem muita coisa pra se falar sobre!
Rapidinhas:
1 - Pedaleiras também têm suas especificidades: funcionam muito bem de acordo com seus pontos fortes. As Line6 são muito boas para simulação de amps e distorções, mas pra modulações são fracas; as Boss são muito boas em delays e algumas modulações; os novos modelos da Zoom parecem ser bastante competentes, mas ainda estão muito caros; os Digitech não prestam pra nada; os Voxlab valvulados são bastante bons, mas quase não os vejo pra vender por aí.
2 - Comprar pedais é uma arte. Prometo dedicar um post específico sobre isso no futuro, tratando sobre pedais de boutique e bons handmade por aí.